segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ética e Moral - Leonardo Boff


Ètica E Moral: A Busca De Fundamentos – Leonardo Boff


A Terra pede socorro e a humanidade deve escolher o seu futuro. A medida que o mundo se torna mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta grandes perigos e grandes promessas. os padrões dominantes de  produção e consumo causaram a devastação ambiental, a extinção das espécies, a redução dos recursos,as desigualdades sociais, as injustiças, a pobreza, a ignorância, os conflitos violentos e os grandes sofrimentos.       Há uma aterradora crise ética e moral em todas as partes, atingindo a humanidade. O que é bom? O que é mau? Como conviver, dividir a única morada se as bases da segurança global estão ameaçadas? Ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida.      A proposta aquí apresentada é que, revisitando os conceitos e situações que fez surgir a ética e a moral busquemos um novo paradigma á altura desses desafios numa tentativa de socorro á vida.     O ser humano, dotado da força de auto-afirmação e da força de integração, rompeu Com os demais seres, esqueceu a teia de comunhão com os vivos e com a Fonte Originária de todo ser e quiz dominar a Terra. Esse "pecado original do ser humano"criou o princípio de auto-destruição da espécie e de seu habitat natural.     È necessário o reencantamento com a natureza, a busca do" feminino " que nos ensina a cuidar de tudo com zelo. Em oposição ao paradigma Conquista que o ser humano vem desenvolvendo em seu processo de hominização, é urgente que se acate o Paradigma Cuidado, ética mínima e universal para preservar a herança Terra e garantir nosso futuro.Na nova fase em que a Terra se encontra - a de Civilização Planetária - o sonho de integração de todas as culturas e etnias ,de uma nova aliança dos homens com os demais seres vivos da natureza ,é o sonho de uma civilização de re-ligação universal que inclui a todos - da formiga do caminho á galáxia mais distante. Essa nova civilização planetária dará centralidade á religião na sua dimensão antropológica - qual uma força que se propõe a re- ligar todas as coisas entre si, com o ser humano e com o Supremo Ser. Dessa nova ótica nascerá uma nova ética que inaugurará a fase globalizada do destino humano e da Terra.       Historicamente as sociedades foram orientadas ética e moralmente pelas religiões e pela razão.Os pontos comuns das religiões permitem elaborar um consenso ético mínimo capaz de manter a humanidade unida e preservar o capital ecológico indispensável para a Vida (Ethos que ama e Cuida).  A razão crítica fundamentou a ética e a moral tentando estatuir códigos éticos universalmente válidos (ethos que procura). Esses dois paradigmas  precisam ser enriquecidos (nesse tempo de crise) para que se dê conta das demandas éticas provenientes da realidade globalizada.      São as experiências humanas ,os valores fundamentais ligados á vida, ao ser cuidado, ao trabalho, ás relações cooperativas e á cultura da não-violência e da paz, que fazem surgir a ética (ou  as éticas ) e podem  estabelecer uma possível resposta aos problemas atuais da globalização, da pobreza e da violência.      Buscando a filosofia clássica de Heráclito e outros pré-socráticos encontramos os termos daimon e Ethos equivalendo a anjo e morada do ser humano - "A casa é o anjo bom do ser humano" . A Casa (ethos) refere-se ás relações que o ser humano estabelece com o meio natural. separando um pedaço dele para que seja sua morada, com os que habitam na morada, para que sejam cooperativos e pacíficos, etc...Morada é algo existencial e globalizante e para que seja habitável é que existe o daimon (anjo bom), gênio e protetor da Casa. Daimon é a voz profética, dentro do ser humano; é o sinal de Deus; é o sentimento do conveniente e do justo, todos o possuem mas nem todos o ouvem.Então Morada (ethos) acaba sendo a ética que devemos ter e o anjo bom (daimon), o tato pelo que é justo e bom.A ética é parte da filosofia. São concepções de fundo acerca da vida, do ser humano, do seu destino e estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades (pessoas de caráter e boa índole).A moral é parte da vida concreta. Trata-se da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos, como maneiras e usos de organizar as refeições, os estilos de relacionamentos, os comportamentos concretos das pessoas, que os latinos chamam de mores ,daí a derivação moral.A vida em família contribui para estabelecer o caráter das pessoas. Relações harmoniosas e inclusivas em casa (ética) remetem aos valores mais fundamentais ou aos princípios  (moral).A razão crítica, articulada pelos pré-socráticos, açambarcou a ética que abandonou o "daimon", se estabeleceu somente no "ethos". E com o imenso alcance - de saber, de poder, modificando a vida, redefinindo tempo e espaço - o "ethos que procura" fragmentou a realidade em infindas morais (moral capitalista, cristã, judaica, etc...)separou razão e emoção, Deus e o mundo, justo e legal, público e privado. A ética foi dividida em ética dos meios e dos fins, dos interesses e dos princípios, e o saber foi posto a serviço do poder e o poder usado como dominação. A ética normatizou o indivíduo, fê-lo introjetar as leis ou do contrário,a punição. O "ethos que procura" foi um dos grandes responsáveis pela crise atual.      No final dessa grande busca (se é que se tem final) a razão encontra o "ethos que ama" - que se manifesta pela transcendência, pela espiritualidade. Para a razão isso é um grande mistério, vivo e desafiador, que obriga o ser humano a sair de si mesmo e a se posicionar diante do outro - seja pela indiferença ou acolhida, rechaço ou destruição. No Ocidente o paradigma foi o da indiferença, negação, destruição. Mas o Cristianismo veio para subjugar esse paradigma e exaltar o "ethos que ama" com vários arquétipos conclamando á Lei do Amor incondicional (Jesus, São Francisco de Assis).Esse ethos é o mais inclusivo possível, o mais humanizador que vai de encontro á natureza e á Deus, fundando um novo sentido de viver: amar.    Do amor decorre o Cuidado, ou vice-versa, e do cuidado a "sustentabilidade" - termo ecológico-político que visa o justo eequilíbrio entre o Homem e a Terra .O "ethos que se responsabiliza" vem como consequência de nossos atos sobre os outros e a natureza e temos que desenvolvê-lo como condição de sobrevivência da humanidade e de seu habitat natural. Ele impõe a precaução e a cautela como comportamentos éticos básicos.   Coexistindo no mesmo cosmo e na mesma natureza, com origem e destino comuns, somos seres interdependentes. Daí o ''ethos que se solidariza". `E preciso repensar a lei de seleção natural de Darwin, propondo o cuidado e o amor, intrínsicos á solidariedade.   Compaixão (ethos que se compadece - sofrer com o outro, alegrar-se com o outro), Integração (com todos os seres da natureza e do universo) são outras tantas éticas que indicam a possibilidade do mundo se tornar a morada benfazeja do ser humano.   Para o sucesso da nova ética planetária sugere-se o resgate da noção do Bem Comum para toda a comunidade de vida, entendendo por Bem Comum o acesso justo de todos aos bens básicos como alimentação, saúde, moradia, energia, segurança e comunicação, o respeito e a convivência pacífica, a cooperação entre os povos. A segunda sugestão é a auto-limitação, ou seja, consumir de forma responsável e solidária para com os seres humanos e demais seres vivos de hoje e de amanhã, pois todos têm direito á Terra e  a  uma vida com qualidade. A Terceira virtude a contribuir para a garantia de um futuro comum da Terra e da humanidade é a chamada "Justa medida" - o ótimo relativo, o equilíbrio entre o mais e o menos. Ancorada


Nenhum comentário:

Postar um comentário